terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ota vs. Alcochete


A decisão do novo Aeroporto de Lisboa devia ser alvo de estudo profundo nas Academias de Ciência Política em todo o mundo como um exemplo de como não se deve decidir! É de facto notável como o país anda há dezenas de anos para decidir onde fazer a nova estrutura aeroportuária da capital, se não for caso único será, certamente, muito raro.

Nos recentes capítulos desta novela trágica em que o Estado português se tem deixado arrastar a CIP decidiu (em acordo com o Primeiro-Ministro) realizar um estudo sobre a viabilidade do aeroporto ser construído em Alcochete e não na Ota.

O estudo, como não poderia deixar de ser num documento técnico, aponta defeitos e virtudes a esta localização. Custando x ou y, sendo a oneração modular, em função do que for decidido construir - especialmente em acessos.

Num comentário politicamente assassino o presidente da CIP, Francisco Van Zeller, anunciou que o Ministro da Tutela, Mário Lino, queria destruir este estudo - de modo a facilitar a decisão (entretanto já tomada, não esquecer) pela Ota. Esta frase, além de ser grave do ponto de vista político e pessoal - na sequência de muitas outras do mesmo autor, tem o condão de condicionar o Ministro, silenciando-o sobre esta matéria: tudo o que Mário Lino disser sobre o tema será visto sobre a óptica do favorecimento à Ota. No entanto, e porque não ouvi ninguém dizer isto antes, pode Van Zeller dizer estas coisas sem que alguém pergunte como obteve essa informação? Não deveria já Mário Lino ter chamado à coação o autor de tal informação e instá-lo a dizer quem o informou de tal; sob pena de ter de afirmar que a afirmação é falsa! Se tal não acontecer, somos obrigados a acreditar que Van Zeller não mentiu, que o objectivo do Ministro está tomada sem ler ou ouvir mais estudos.

Independentemente deste estudo tenho uma outra questão: a decisão da construção do novo aeroporto é técnica ou política? Esta questão é um bocadinho pertinente pois, parece-me que o debate está inquinado pela presença de tantos e tão consagrados engenheiros e empresários.

A decisão da decisão de uma grande obra pública deve estar sempre assente numa decisão política, ainda que consubstanciada tecnicamente; querer transformar-se esta decisão num facto técnico é uma falácia. Não cabe ao Eng. A ou B a decisão, cabe a que foi eleito para governar o país decidir onde, como e porquê construir o aeroporto. A construção desta obra implica saber-se para que se quer um novo aeroporto; se para Lisboa, se para o país; se se quer uma estrutura que aumenta a oferta ou uma placa de ligação a outros destinos (como Barajas é para a Am. latina...); ligação a estruturas ferroviárias e portuárias ou independente; potenciadora da região A ou B; etc...

É altamente redutor estarem a ser discutidos os números da obra, quando a obra em si mesma nada vale (ou pouco vale); o importante é saber-se o que se consegue extrair de um novo aeroporto, e qual a localização que mais oferece ao país integrada na Estratégia nacional! Até agora esta parte da discussão tem estado omissa, e por isso o governo está a perder o combate com os tecnocratas.

Falta explicar ao país o porquê de uma localização ou de outra. Se a decisão for assente em bases sólidas e integrada numa estratégia nacional, facilmente o Governo sai desta questão em alta, de outra forma está montado um atoleiro que atirará lama para Lino e Sócrates.


FG


ps - no meio desta questão ainda não percebi se existe a tal Estratégia Nacional ou se estamos a navegar à vista, como quase sempre...

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