segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Notas sobre o Zimbabué


Durante os últimos dias falou-se do “caso Mugabe” na comunicação social portuguesa.

Na sexta-feira Vasco Pulido Valente, no Público, criticou a opção do governo português em não alinhar com o governo britânico e permitir a entrada de Robert Mugabe em Portugal, na Cimeira Europa-África.

No Sábado foi José Cutileiro, no Expresso, que falou em Mbeki empurrar Mugabe a sair do poleiro.

No primeiro caso acho curioso que a posição realista de Portugal seja posta em causa: então 26 países europeus devem vergar-se à Grã-Bretanha em relação ao Zimbabué e assim pôr em causa a posição da EU no continente? No momento em que a RPC ensina ao mundo como se promovem relações privilegiadas com o continente africano (com o mínimo de ingerência nos regimes e retirando a moral do campo político), a UE deve ser prejudicada porque a GB, numa descolonização exemplar à portuguesa, não foi capaz de gerir aquele dossier? I dont think so! Sinal mais para os decisores das Necessidades.

No segundo caso concordo em parte com Cutileiro. O ambiente político zimbabueano está absolutamente fragmentado e poroso, a caminho de um desastre (que não se sabe bem se não terá já acontecido), pelo que soluções internas… nem pensar! É preciso obter uma resposta regional e a República da África do Sul (RAS) é um actor essencial para obter essa resposta. No entanto, Mbeki sabe que Mugabe é um homem com prestígio, capaz de conseguir aliados regionais, o que deixaria a RAS no ingrato papel de se opor a um herói do movimento descolonizador para fazer o jogo dos ex-colonos. Lá ficaria o país isolado (mais uma vez), pondo em causa anos de trabalho de Mandela e Mbeki na legitimação do novo regime da RAS.

A solução será convencer Mugabe a retirar-se, andamos nisto há 8/9 anos e não há meio do homem sair pelo seu pé. Para tal seria necessário que RAS e Angola se unissem nessa pressão, mas como os países se defrontam no lugar de potência regional, com Angola a surgir como underdog mas com uma enorme capacidade de projecção de poder e com um prestígio junto dos vizinhos que a RAS ainda não tem (o Apartheid deixou marcas muito difíceis de limpar). A chave da saída de Mugabe só poderá ser Angola; a RAS já deu a entender o que defende, mas não parece capaz de o impor, só com Angola o nó se desfaz e João Miranda mostrou há alguns meses que Angola está com Mugabe.

Efectivamente, a cimeira EU-Áfica poderá ajudar ao desbloquear desta questão, mas muito passa pela aproximação de Angola às teses sul-africanas. Mas, dado que Angola não parece ter muito a ganhar com tal aproximação, o novo regime de Harare será sempre próximo da RAS, enquanto a manutenção de Mugabe aparece sempre internacionalmente como causa de embaraço e demonstração de impotência da RAS, Luanda está confortável.

FG

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Mugabe e os brancos


Em 1979 fechou-se o ciclo de um determinado tipo de colonização em África, o ciclo da ocupação europeia de territórios naquele continente (o caso da África do Sul é distinto, os Boers, ainda que brancos, estão em África há já alguns séculos) .

Em 1979 assinaram-se os Acordos de Lancaster House, no Reino Unido, que decidiram a independência do Zimbabué, até lá Rodésia do Sul. Nestes acordos houve uma questão fundamental que ficou em banho-maria durante 20 anos: a posse da terra – talvez a mais importante em África. O governo ficou com algumas quintas, que deveria exploraria em regime colectivo, e os agricultores brancos ficaram com outras, que exploraram de forma privada.

Abre-se um parêntesis neste texto para explicar que o líder do ZANU, Robert Mugabe, ganha para sempre um élan especial, por ser parte da geração de políticos que deu a independência a África, terá sempre a admiração e o respeito dos pares.

Até ao final da década de ‘1990 o Zimbabué é visto como um exemplo de boas práticas e de desenvolvimento: o celeiro de África; e, Robert Mugabe respeitado enquanto líder africano de referência, também fora do continente.

Em 1999 começam os problemas, Lancaster House empurrou com a barriga a questão do acesso à terra. Em África todos têm acesso a trabalhar a terra, se alguém precisa de um pedaço de terra para trabalhar, pode fazê-lo, mas não pode ter a sua posse e os seus filhos não a podem herdar. A questão da posse é complexa, para os padrões ocidentais, porque no ocidente o estuto social advém, em grande medidada, da posse de determinados bens; em África há uma inversão destes factores: o estatuto social com que se nasce possibilita o acesso a certos bens, concretamente a terra.

Para percebermos a dificuldade do "estranho" ter acesso à terra vejamos umcaso concreto na vizinha República Democrática do Congo (RDC). Durante o século XIX, após uma série de lutas internas no que hoje é o Ruanda, alguns tutsis fugiram do seu território original para se instalar numa zona da actual RDC, mais concretamente na província do Kivu norte, na região de Mulenge. Essas pessoas ficaram conhecidas inicialmente como banyaruanda (“povo do Ruanda”, porque se integravam entre as que falavam a língua do Ruanda, o Kinyaruanda) e não tinham (como hoje não têm) acesso à posse da terra, podem trabalhá-la mas não a podem possuir (isto é, não a podem vender e não pode ser herdada pelos seus descendentes). Esta questão é normalmente discutida pelos líderes tradicionais, na organização do poder tradicional da RDC há três níveis, a posse da terra é discutida no segundo nível e, dado que estas pessoas só têm acesso ao primeiro nível, não têm sequer oportunidade de colocar as suas questões da terra à discussão. A luta pela terra desta etnia origina que, nos anos ‘1970, tenham surgido, quase por geração expontanêa, os banyamulenge (até esta década não se encontram referências a este povo, ele não existia nos registo coloniais belgas), povo de Mulenge, tentando a integração total na organização tradicional congolesa, deixando de ser vistos como estrangeiros. No entanto, tal nunca sucedeu. Como consequência nunca foi pacificada a situação etnico-tribal no Kivu e este foi sempre um povo pária na RDC, sendo conhecido o seu papel fundamental na I Guerra Civil do Congo, em que são aliados cruciais de Laurent-Désiré Kabila na tomada do poder de Kinshasa.

A mesma questão se coloca no Zimbabué. Se na RDC os banyamulenge não conseguem aceder à posse da terra, após mais de um século (segundo alguns autores mais tempo ainda) de instalação no local, como se pode considerar que a situação dos brancos no Zombabué, com todo o peso hiostórico inerente, se resolveria em 20 anos? Mugabe está a jogar a sua manutenção no poder, de acordo com os padrões ocidentais, como não podia deixar de ser – até porque é líder de um Estado neocolonial, herdeiro da colonização branca de África, agarrando-se à mais importante questão africana para ter o apoio dos zimbabueanos.

A desgraça do Zimbabué nasce da herança de um Estado neocolonial. A forma do Estado, as relações sociais, a organização social padece dos mesmos males, com a sociedade urbana a responder a normas ocidentais e o mato a viver de acordo com os costumes tradicionais. Nada disto é novo, bem pelo contrário!

O que é verdadeiramente novo é a atenção que o Zimbabué provoca na Europa, o que se explica por uma só razão: os agricultores são brancos. Milhares de negros estão a morrer há já alguns anos no Sudão, esta questão está na agenda de todos os sítios de relações internacionais ou estudos africanos; os EUA falam dele há algum tempo, mas só o Zimbabué provoca tal reacção.

Por esta razão muita gente sabe quem é Robert Mugabe e o que ele fez a alguns brancos (e o drama que provocou no seu país a milhões dos seus concidadãos), mas duvido que haja tantos ocidentais a saberem que foram (são?) as Interahamwe


FG

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O financiamento dos partidos


A postura hipócrita da legislação portuguesa, tentando ser puritanos no financiamento partidário (como fazem nos ordenados dos eleitos... para dar outras benesses que custam bem mais ao sistema de segurança social) só podia dar nisto. Segundo o Público de hoje, um ex-Secretário Geral do PSD, José Luís Arnaut, terá sido responsável, juntamento com o ex-Secretário Geral Adjunto do partido, Vieira de Castro, por um financiamento ilegal da Somague ao Partido Social Democrata.

É curioso como não se têm levantado muitas vozes dos outros partidos contra esta situação grave. A verdade é que a Lei empurra todos os partidos para situações de financiamento ilegal e todos têm neste caso telhados de vidro. Porque não deixarmo-nos de hipocrisia e passar a aceitar mais e maiores financiamentos, com maior transparência e retirar a suspeição do nosso sistema político?

A pior face desta moeda é a suspeição que cobre todo o sistema partidário. É que, pouco depois de ter tomado posse como Secretário de Estado das Obras Públicas, Vieira de Castro pode ter tomado uma decisão favorável à Somague, numa concessão de Auto-Estrada. Ao que parece, segundo a notícia do Público, a Somague até teria razão. No entanto, está uma nuvem de suspeição que mancha a política, os políticos e os empresários, apenas e só o legislador tem preferido o caminho fácil da demagogia...

FG

*ps - Tudo isto não é mais do que o business as usual à portuguesa...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Iraque 2007


Ler o bom artigo, como quase todos (ainda que discorde de alguns pormenores) do General Loureiro dos Santos, no Público de hoje, pôs-me a pensar no que aconteceu aos EUA nos últimos anos.

Depois do fim da guerra-fria, os EUA apareceram como os vencedores incontestáveis de uma guerra sem batalhas (apenas com baixas...), tornando o mundo claramente unipolar. Por essa razão foi tão fácil conseguir o bandwagoning de 1991/1992 após a invasão do Kuwait pelo Iraque. Nos anos '90 os EUA habituaram-nos que havia um Xerife na nova Ordem Internacional (apesar dos desastres da Somália e do Haiti) e, de uma maneira ou de outra, com (Timor) ou sem (Kosovo) apoio generalizado internacional lá foram levando a água ao seu moinho.

Salienta-se que em quase todos os exemplos dos anos '90, apesar de algumas críticas, os EUA estiveram acompanhados do mainstream internacional - ainda que no caso do Kosovo a coisa tenha estado mais tremida.

Com a intervenção de 2003, que em minha opinião era necessária, ainda que as questões de forma tenham sido tratadas com os pés, os EUA, patrocinados por algumas elites europeias (e não só), mas também por culpas próprias perderam muito do seu capital e da capacidade de atracção que possuíam.

Encarando o poder de forma holística, porque se este é fungível nas suas diversas dimensões então forma um todo, os EUA fazem um mundo claramente unipolar mas, no qual boa parte da população não está confortável com essa situação e no qual a potência dominante é enfrentada por Estados menores, como a Coreia do Norte, a Venezuela ou o Irão. Paralelamente há já gente a acreditar que a vulnerabilidades militares reveladas no Iraque mostram que os EUA podem estar em sobre-extensão.

No entanto, se encararmos o poder de uma perspectiva multidimensional então as coisas tornam-se muito mais complexas: na dimensão militar o mundo é unipolar, o orçamento e as capacidades dos EUA estão a anos luz de distância dos restantes actores); em termos económicos o mundo é claramente multipolar, os EUA são o actor mais potente, mas a RPC cresce a níveis absurdos (de tal forma que a taxa de juro subiu para mais de 7% para travar o crescimento económico e o disparar da inflação) e, as dificuldades do Doha Round não são mais do que o claro sinal da emergência - e a consolidação - de algumas potências, com a formação do eixo BRIC; por fim, no que à dimensão cultural diz respeito, os EUA continuam a ser dominantes, mas o avanço da globalização e a perda de popularidade do país leva a que tenha de haver cuidados suplementares ao nível da diplomacia pública e do soft power.

Os próximos anos serão muito importantes para a definição do papel dos EUA no mundo e da distribuição do poder no século XXI. Ainda teremos de esperar alguns anos para que Brasil, Rússia, Índia e China ditem as regras do mundo. A verdade é que o eixo da economia mundial está a deixar o ocidente, onde esteve nos últimos 500 anos. Adivinhava-se que tal acontecesse desde 1956, quando Dulles vergou a França e a Inglaterra ao fim do euro-mundo. Nessa altura a competição era a dois e fazia-se em toda a parte do mundo. Agora a competição é global, metro a metro. Tip O'Neill disse que all politics is local, Friedman responde, not anymore, agora também é, ao mesmo tempo, global. Há que estar preparado.
FG

O Verão por Mucha...


Antes de me dedicar a escrever outro post mais sério olhei Mucha, feliz porque me lembrou uma linda manhã das últimas férias de Verão...

FG

Obama, Cuba e as intenções de voto na Florida


O candidato presidencial Barack Obama declarou ontem ser a favor da diminuição das restrições ao envio de dinheiro dos emigrantes cubanos aos seus familiares e das restrições de viagens a Cuba.

Será que o homem está a correr fora do establishment? Não me parece que seja assim tão ingénuo. O capital dos democratas junto da população de origem cubana de Miami está ferido desde que Clinton permitiu o regresso de Elian Gonzales para junto do seu pai, em Cuba.

Bush, seduzindo o voto mais conservador dos cubanos (e sabendo talvez que perdera na Florida), limitou o envio de dinheiro para os familiares a 300 dólares (antes era 3000) e restringiu as viagens de visita aos familiares em Cuba a uma em cada três anos. A medida, além de popular junto dos sectores mais anti-castristas de Miami, foi também inteligente, é sabido o quanto Cuba lucra com as remessas dos dinheiros dos emigrantes – é a segurança social exógena.

Obama parece saber, no entanto, que a composição da massa de emigrantes mudou nas últimas décadas. No início os cubanos saíam da ilha de avião, sem dinheiro mas com os seus; nos últimos anos têm abandonado a ilha de barco (muitas vezes de borracha) e, outras vezes, em câmaras-de-ar de pneus, deixando para trás toda a sua rede social e familiar.

Estas novas gerações são menos politizadas dos que as primeiras, não são propriamente ex-privilegiados de Batista, e querem ajudar quem deixaram para trás, muitas vezes mulher e filhos. Hilary declarou, há alguns dias, que era possível mexer nestas questões, mas apenas após a saída de Castro da chefia-de-Estado, numa atitude muito mais mainstream do que Obama.

Na verdade, se os votos na Florida estão divididos, sendo que o voto latino é, maioritariamente, republicano, o discurso de Obama penetra no reduto do inimigo, podendo ser muito bem pensado numa eleição nacional. No ano em 2000 (números pouco fidedignos, por razões óbvias e conhecidas de todos, tal foi a chapelada...) Bush teve 2,909,176 votos, Gore 2,907,451, ambos com 49 %; para uma diferença final de apenas 1725 votos - convenhamos não foi mau (pouco tempo depois do fenómeno Elian). Em 2004, Bush teve 52 % dos (3,964,522 votos) contra 47% de John Kerry (3,583,544), uma diferença de 380978 votos (todos estes dados foram retirados do sítio oficial da CNN).
Assim, olhando para estes números, e partindo do princípio que o voto mais conservador está fora de hipótese para os democratas, mas que o voto destas novas gerações é menos conservador e politizado pelo passado, estes novos votos podem estar a ser ganhos por Obama. Ainda que não consiga ganhar na Florida nas primárias, esta situação torna-o um opositor temível na corrida sequente, juntando voto judeu, mais progressista e latino moderado. Pode também fazer dele um sério candidato a Vice-Presidente, capaz de ganhar votos para o Partido numa corrida presidencial, isto é, torna-o muito pouco dispensável.

Os números das primárias na Florida (Julho de 2007, do American Research Group) dão 45% de intenção de voto em Clinton e 25% em Obama. O candidato do Illinois tem vindo a subir, o que é natural num ex-quase desconhecido da política nacional, mas Hilary tembém começou com menos 9 pontos do que aqueles que tem hoje. A corrida da Florida parece estar decidida em favor de Hilary, mas no país a situação é cada vez mais tremida. De qualquer forma, Obama parece ser, cada vez mais, uma lufada de ar fresco no marasmo em que os EUA estão colocados.

FG

terça-feira, 21 de agosto de 2007

O endurecer do novo mundo


Quando Francis Fukuyama decidiu defender a tese que a história tinha terminado, muitos leitores (do título do livro, presumo...) correram a criticá-lo pela ousadia de determinar o fim de tal coisa. Pois bem, não era bem isso que o homem queria dizer, era apenas o fim de um tipo de história.

A década de ‘1990, com a crença na Pax Americana (para os ingénuos eterna), estava a dar-lhe razão (apesar das surpresas de Mogadíscio). O mundo, ainda que não se vergando totalmente ao poder americano, acreditava que o modelo demo liberal (capitalismo democrático) era o fim da busca dos sistemas políticos, encontráramos o nosso ideal!

A Pax americana assenta em dois pilares fundamentais: a teoria da pax democrática e a liberdade de comércio internacional. Daí partiu-se para a promoção (e imposição) de regimes democráticos pelo mundo fora – onde tal era possível… Do lado da liberdade de comércio foi fundada uma organização internacional, a OMC, resultando ainda de Bretton Woods, que teria a incumbência de (des)regular as trocas comerciais no mundo. Estava feita a quadratura do círculo no mundo, e com assinatura ocidentocêntrica: paz mundial e prosperidade eterna!

Paralelamente a estes acontecimentos acontecia um movimento, muitas vezes independente de vontades de governantes, que terraplenou o mundo: a Globalização. Fruto dos enormes avanços tecnológicos das últimas décadas o conhecimento tornou-se cada vez menos um privilégio e, cada vez mais, uma necessidade objectiva – cada vez mais barata e acessível.

Podemos colocar o movimento económico e tecnológico (e também cultural…) do lado da Globalização, o que terminou, nos últimos anos, foi a possibilidade de colocar o movimento democratizador do lado da Globalização. Falou-se durante alguns anos que a opção pelo demo liberalismo era um determinismo deste período histórico em que vivemos, se foi, já não é!

Porque esta razão assiste-se agora a autores reputados como Kennan (ou menos conhecidos como Azar Gat) a decretarem o fim do Fim da História. Concordo aliás com a tese de Gat, o sucesso recente de países como a China ou a Rússia (com razões distintas das quais adiantes falaremos), num mundo em que são mais reactivos do que pró-activos, dado que não foi nenhuma destas a potência vitoriosa do sistema anterior (logo não foram elas que exerceram o pattern maintenance), mostra que há vida fora do demo liberalismo.

Zakaria avisara no seu Future of Freedom que era provável que a instauração de regimes que de democráticos só possuíam o nome levasse ao descrédito da democracia, resultando no regresso dos autoritarismos. O sucesso recente da RPC (porque o seu modelo de autoritarismo de mercado se enquadra bem no sistema liberalizado, competitivo e, acima de tudo, desregulado do sistema internacional actual) e da Rússia (apoiado no dinheiro que entrou no país com a alta do petróleo) oferece uma escapatória às exigências do sistema democrático: o capitalismo autoritário.

Angola demonstrou o quão frágil é a proliferação da democracia no mundo quando rompeu com o FMI, em 2004, que fazia exigências crescentes em matérias sensíveis da governação angolana, e optou por uma linha de crédito chinesa, mais realista e esquecendo a moral em política.

Os próximos anos serão curiosos de seguir, mas não acredito que seja um regresso à guerra-fria – esse sistema teve um período histórico e ideológico próprio, que já terminou. A opção actual não é por sistemas estatizantes mas por aproveitar as vantagens que o liberalismo económico oferece mas mantendo o açaime na população: capitalismos autoritários ou autoritarismos de mercado.

O grande desafio, creio eu, passará nos próximos anos por aí. A esquerda anárquica da OMC, os radicais islâmicos ou Chávez não oferecem sistemas de governo funcionais, a RPC ou a Rússia começam a oferecer. Teremos agora de estar atentos às cenas dos próximos capítulos…

FG

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Rui Pereira tem começado mal...


Este fim-de-semana um grupo de radicais da esquerda, disfarçados de ecologistas, mas verdadeiramente promotores da distopia ecológica, destruiu o ganha-pão de um agricultor algarvio. Eram algumas dezenas, portugueses e estrangeiros, reunidos para a Ecotopia (onde se juntam para estar sujos (não tomam banho), cozinhar de forma ecológica e repor a ordem “ecológica, moral e democrática”.

A GNR identificou uma meia dúzia de portugueses, os estrangeiros não tinham identificação e não foram detidos para tal (ainda que apanhados em flagrante); a GNR estava presente no processo destruidor, nada fez, o MAI disse que fez – então se fez, fez mal! Não haverá inquérito, esta tudo normal:



  • A GNR assiste à destruição de propriedade privada e não actua – o MAI diz que esteve bem;

  • Apenas 6 (Pasme-se, 6) indivíduos foram identificados, os outros “curtiram a cena e basaram nas calmas” – o MAI diz que tudo normal;

Como refere o Paulo Gorjão, para nada nos acontecer, depois de cometermos um crime, basta não ter BI!

Algo está mal na cabeça deste ministro, mas como refere José Pacheco Pereira há uma série de grupos que roçam o radicalismo que são financiados pelo Estado – será que os meus impostos têm de pagar as vidas destes selvagens? Será que aquele agricultor tinha de estar sujeito aqueles energúmenos, se a GNR não identificou os bandidos quem ira o homem acusar? A Associação por trás deles? A mesma que é paga pelo Estado? Sou eu que vou indemnizar aquele agricultor?

Daqui resultam duas questões essenciais:



  1. O Estado não tem critério na forma como distribui dinheiro por estas organizações – recordo que Portugal patrocina muitos pouca ciência social, há por aí muita gente que gostava de ter bolsa (como eu) para fazer as suas teses mas tem de suportar os seus estudos com o seu trabalho (e até sou bom aluno, a modéstia impede-me de ser mais elogioso), e o dinheiro vai para ali? Qual é o critério?

  2. Uma força policial que assiste à pratica de um crime e nada faz para o travar e na sua sequência não identifica os criminosos não merece, no mínimo, um inquérito? Isto lembra-me Barrancos…

O Estado português, na pessoa dos seus actores políticos, muito por consequência dos anos de ditadura, e do complexo de esquerda que lhe foi sequente, muitas vezes não se da ao respeito, confundindo amiúdo autoridade com autoritarismo, com medo das reacções popularuchas. É inadmissível que o Estado português não se de ao respeito e Rui Pereira, que até admiro, tem agora, com a sua reacção, responsabilidades objectivas para a falta de autoridade do Estado.

FG

O Polvo Azul II

As notícias desta segunda-feira (a PGR continua notável a alimentar a Comunicação social) mostram o quão podre estão os alicerces do país. Alegadamente a magistrada do Porto que interrogou a mana da ex-companheira do presidente do FC Porto não perguntou nada sobre a razão dela ali estar (para contrariar as declarações prestadas pela irmã sobre Fernando Póvoas, médico amigo do dirigente. Limitou-se, segundo a noticia, a manipular o interrogatório em favor de Pinto da Costa.

Paralelamente quando Mª José Morgado solicitou o envio do interrogatório tal foi-lhe negado, apenas tendo sido facultado após intervenção de Pinto Monteiro. Parece ter sido este interrogatório a causa da investigação que o PGR ordenou a algumas pessoas do DIAP do Porto…

Razão tinha José Pacheco Pereira quando disse que o presidente do FC Porto tinha muita gente refém no norte do país.

Por fim, parabém à LPM por ter um novo cliente, mas este deverá dar muito trabalho a promover, pelo menos a SIC já fez o seu papel, tentou lavar mais branco...

FG

domingo, 19 de agosto de 2007

O Polvo Azul


Há alguns anos um presidente do Sporting, Dias da Cunha, lançou um anátema sobre o futebol português que o tornou alvo de chacota, o sistema.

Sou Benfica, o Sporting é o rival do Glorioso, está estacionado do lado de lá da 2ª Circular mas não tenho por esse clube a azia que o FC Porto me faz e a razão é só uma: o Sistema.

Cresci a ver árbitros como José Pratas a fugirem dos jogadores do Porto quando era tomada alguma decisão que desagradava; o filho do Francisco Silva, árbitro de Faro, estudava num colégio na Cidade do Porto, como despesas pagas pelo FC Porto; Calheiros, árbitro de Braga, teve férias pagas pelo mesmo clube, com direito a factura na televisão e tudo; etc, etc, etc।


O PGR, nua atitude de inteligência rara naquele órgão, indicou Mª José Morgado para liderar a investigação ao futebol. Fê-lo de forma célere mas ruidosa (como é normal na pessoa em causa), como informação e contra-informação nos media, mas com resultado na acusação do presidente do FC Porto.

Nos últimos dias apareceu um contra-ataque dos defensores do status quo, na forma de um dossier anónimo, escrito em estilo ressabiado e, ao que esta a transparecer, sem ponta de credibilidade। Conversava ontem com um amigo meu sobre a decisão de Pinto Monteiro de abrir inquérito àquelas acusações, que dizia que a PGR estava a gastar dinheiro dos contribuintes com acusações balofas sem credibilidade, discordo totalmente! A melhor decisão foi a que foi tomada। Há quem acuse? Investigue-se, o resultado – caso seja aquele em que acredito – será a cada vez maior describilização do presidente do FC porto e dos seus compagnons de route. Conselho a Pinto da Costa: quando se está num buraco o melhor a fazer é parar de cavar…


No entanto, o caminho ainda está no início:



  • O que aconteceu ao Juiz Desembargador Mortágua, que alegadamente deu abrigo a Pinto da Costa e à companheira de então quando fugiram de Portugal na sequência da violação do segredo de Justiça?

  • O que está a justiça desportiva a fazer neste caso?

  • Como é possível que uma personagem como Lourenço Pinto seja Presidente da AF Porto?

  • Como é possível que Valentim Loureiro esta em cargos na Liga?

  • A que se referia o presidente do Benfica na entrevista da SIC, do dia 14 de Agosto de 2007, quando dizia que ia falar sobre o dinheiro de Pinto da Costa?

Estas são algumas das questões que o país precisa de ver respondidas imediatamente. Estas personagens foram, nos anos ’80, deificadas como portugueses de sucesso. Infelizmente os ídolos deste país têm quase todos pés de barro…

FG

A primeira vez


Como há uma vez para tudo e ela tem sempre um significado especial (?), neste blogue também houve uma primeira vez...


FG