Ler o bom artigo, como quase todos (ainda que discorde de alguns pormenores) do General Loureiro dos Santos, no Público de hoje, pôs-me a pensar no que aconteceu aos EUA nos últimos anos.
Depois do fim da guerra-fria, os EUA apareceram como os vencedores incontestáveis de uma guerra sem batalhas (apenas com baixas...), tornando o mundo claramente unipolar. Por essa razão foi tão fácil conseguir o bandwagoning de 1991/1992 após a invasão do Kuwait pelo Iraque. Nos anos '90 os EUA habituaram-nos que havia um Xerife na nova Ordem Internacional (apesar dos desastres da Somália e do Haiti) e, de uma maneira ou de outra, com (Timor) ou sem (Kosovo) apoio generalizado internacional lá foram levando a água ao seu moinho.
Salienta-se que em quase todos os exemplos dos anos '90, apesar de algumas críticas, os EUA estiveram acompanhados do mainstream internacional - ainda que no caso do Kosovo a coisa tenha estado mais tremida.
Com a intervenção de 2003, que em minha opinião era necessária, ainda que as questões de forma tenham sido tratadas com os pés, os EUA, patrocinados por algumas elites europeias (e não só), mas também por culpas próprias perderam muito do seu capital e da capacidade de atracção que possuíam.
Encarando o poder de forma holística, porque se este é fungível nas suas diversas dimensões então forma um todo, os EUA fazem um mundo claramente unipolar mas, no qual boa parte da população não está confortável com essa situação e no qual a potência dominante é enfrentada por Estados menores, como a Coreia do Norte, a Venezuela ou o Irão. Paralelamente há já gente a acreditar que a vulnerabilidades militares reveladas no Iraque mostram que os EUA podem estar em sobre-extensão.
No entanto, se encararmos o poder de uma perspectiva multidimensional então as coisas tornam-se muito mais complexas: na dimensão militar o mundo é unipolar, o orçamento e as capacidades dos EUA estão a anos luz de distância dos restantes actores); em termos económicos o mundo é claramente multipolar, os EUA são o actor mais potente, mas a RPC cresce a níveis absurdos (de tal forma que a taxa de juro subiu para mais de 7% para travar o crescimento económico e o disparar da inflação) e, as dificuldades do Doha Round não são mais do que o claro sinal da emergência - e a consolidação - de algumas potências, com a formação do eixo BRIC; por fim, no que à dimensão cultural diz respeito, os EUA continuam a ser dominantes, mas o avanço da globalização e a perda de popularidade do país leva a que tenha de haver cuidados suplementares ao nível da diplomacia pública e do soft power.
Os próximos anos serão muito importantes para a definição do papel dos EUA no mundo e da distribuição do poder no século XXI. Ainda teremos de esperar alguns anos para que Brasil, Rússia, Índia e China ditem as regras do mundo. A verdade é que o eixo da economia mundial está a deixar o ocidente, onde esteve nos últimos 500 anos. Adivinhava-se que tal acontecesse desde 1956, quando Dulles vergou a França e a Inglaterra ao fim do euro-mundo. Nessa altura a competição era a dois e fazia-se em toda a parte do mundo. Agora a competição é global, metro a metro. Tip O'Neill disse que all politics is local, Friedman responde, not anymore, agora também é, ao mesmo tempo, global. Há que estar preparado.
Depois do fim da guerra-fria, os EUA apareceram como os vencedores incontestáveis de uma guerra sem batalhas (apenas com baixas...), tornando o mundo claramente unipolar. Por essa razão foi tão fácil conseguir o bandwagoning de 1991/1992 após a invasão do Kuwait pelo Iraque. Nos anos '90 os EUA habituaram-nos que havia um Xerife na nova Ordem Internacional (apesar dos desastres da Somália e do Haiti) e, de uma maneira ou de outra, com (Timor) ou sem (Kosovo) apoio generalizado internacional lá foram levando a água ao seu moinho.
Salienta-se que em quase todos os exemplos dos anos '90, apesar de algumas críticas, os EUA estiveram acompanhados do mainstream internacional - ainda que no caso do Kosovo a coisa tenha estado mais tremida.
Com a intervenção de 2003, que em minha opinião era necessária, ainda que as questões de forma tenham sido tratadas com os pés, os EUA, patrocinados por algumas elites europeias (e não só), mas também por culpas próprias perderam muito do seu capital e da capacidade de atracção que possuíam.
Encarando o poder de forma holística, porque se este é fungível nas suas diversas dimensões então forma um todo, os EUA fazem um mundo claramente unipolar mas, no qual boa parte da população não está confortável com essa situação e no qual a potência dominante é enfrentada por Estados menores, como a Coreia do Norte, a Venezuela ou o Irão. Paralelamente há já gente a acreditar que a vulnerabilidades militares reveladas no Iraque mostram que os EUA podem estar em sobre-extensão.
No entanto, se encararmos o poder de uma perspectiva multidimensional então as coisas tornam-se muito mais complexas: na dimensão militar o mundo é unipolar, o orçamento e as capacidades dos EUA estão a anos luz de distância dos restantes actores); em termos económicos o mundo é claramente multipolar, os EUA são o actor mais potente, mas a RPC cresce a níveis absurdos (de tal forma que a taxa de juro subiu para mais de 7% para travar o crescimento económico e o disparar da inflação) e, as dificuldades do Doha Round não são mais do que o claro sinal da emergência - e a consolidação - de algumas potências, com a formação do eixo BRIC; por fim, no que à dimensão cultural diz respeito, os EUA continuam a ser dominantes, mas o avanço da globalização e a perda de popularidade do país leva a que tenha de haver cuidados suplementares ao nível da diplomacia pública e do soft power.
Os próximos anos serão muito importantes para a definição do papel dos EUA no mundo e da distribuição do poder no século XXI. Ainda teremos de esperar alguns anos para que Brasil, Rússia, Índia e China ditem as regras do mundo. A verdade é que o eixo da economia mundial está a deixar o ocidente, onde esteve nos últimos 500 anos. Adivinhava-se que tal acontecesse desde 1956, quando Dulles vergou a França e a Inglaterra ao fim do euro-mundo. Nessa altura a competição era a dois e fazia-se em toda a parte do mundo. Agora a competição é global, metro a metro. Tip O'Neill disse que all politics is local, Friedman responde, not anymore, agora também é, ao mesmo tempo, global. Há que estar preparado.
FG
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