quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Obama, Cuba e as intenções de voto na Florida


O candidato presidencial Barack Obama declarou ontem ser a favor da diminuição das restrições ao envio de dinheiro dos emigrantes cubanos aos seus familiares e das restrições de viagens a Cuba.

Será que o homem está a correr fora do establishment? Não me parece que seja assim tão ingénuo. O capital dos democratas junto da população de origem cubana de Miami está ferido desde que Clinton permitiu o regresso de Elian Gonzales para junto do seu pai, em Cuba.

Bush, seduzindo o voto mais conservador dos cubanos (e sabendo talvez que perdera na Florida), limitou o envio de dinheiro para os familiares a 300 dólares (antes era 3000) e restringiu as viagens de visita aos familiares em Cuba a uma em cada três anos. A medida, além de popular junto dos sectores mais anti-castristas de Miami, foi também inteligente, é sabido o quanto Cuba lucra com as remessas dos dinheiros dos emigrantes – é a segurança social exógena.

Obama parece saber, no entanto, que a composição da massa de emigrantes mudou nas últimas décadas. No início os cubanos saíam da ilha de avião, sem dinheiro mas com os seus; nos últimos anos têm abandonado a ilha de barco (muitas vezes de borracha) e, outras vezes, em câmaras-de-ar de pneus, deixando para trás toda a sua rede social e familiar.

Estas novas gerações são menos politizadas dos que as primeiras, não são propriamente ex-privilegiados de Batista, e querem ajudar quem deixaram para trás, muitas vezes mulher e filhos. Hilary declarou, há alguns dias, que era possível mexer nestas questões, mas apenas após a saída de Castro da chefia-de-Estado, numa atitude muito mais mainstream do que Obama.

Na verdade, se os votos na Florida estão divididos, sendo que o voto latino é, maioritariamente, republicano, o discurso de Obama penetra no reduto do inimigo, podendo ser muito bem pensado numa eleição nacional. No ano em 2000 (números pouco fidedignos, por razões óbvias e conhecidas de todos, tal foi a chapelada...) Bush teve 2,909,176 votos, Gore 2,907,451, ambos com 49 %; para uma diferença final de apenas 1725 votos - convenhamos não foi mau (pouco tempo depois do fenómeno Elian). Em 2004, Bush teve 52 % dos (3,964,522 votos) contra 47% de John Kerry (3,583,544), uma diferença de 380978 votos (todos estes dados foram retirados do sítio oficial da CNN).
Assim, olhando para estes números, e partindo do princípio que o voto mais conservador está fora de hipótese para os democratas, mas que o voto destas novas gerações é menos conservador e politizado pelo passado, estes novos votos podem estar a ser ganhos por Obama. Ainda que não consiga ganhar na Florida nas primárias, esta situação torna-o um opositor temível na corrida sequente, juntando voto judeu, mais progressista e latino moderado. Pode também fazer dele um sério candidato a Vice-Presidente, capaz de ganhar votos para o Partido numa corrida presidencial, isto é, torna-o muito pouco dispensável.

Os números das primárias na Florida (Julho de 2007, do American Research Group) dão 45% de intenção de voto em Clinton e 25% em Obama. O candidato do Illinois tem vindo a subir, o que é natural num ex-quase desconhecido da política nacional, mas Hilary tembém começou com menos 9 pontos do que aqueles que tem hoje. A corrida da Florida parece estar decidida em favor de Hilary, mas no país a situação é cada vez mais tremida. De qualquer forma, Obama parece ser, cada vez mais, uma lufada de ar fresco no marasmo em que os EUA estão colocados.

FG

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