quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Incompetência insustentável

Algumas pessoas, que julga-se perceberem de política orçamental, dizem que o governo tem previsões orçamentais que não estarão de acordo com a instabilidade da economia internacional, muito wishful thinking.

Soube-se ontem que, durante a negociação de Cahora Bassa, não foi tido em conta a desvalorização do Dólar em relação ao Euro e o país acabou por receber menos 80 milhões de euros do que estava originalmente previsto no acordo, apenas e só porque não foi acautelada a desvalorização monetária...

FG

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

As confissões de Amado

O MNE português, à margem da inauguração do AICEP em Singapura, fez questão de fazer saber que preferia que Mugabe não viesse à Cimeira, deve estar quase certo que vem; faz o gosto a ingleses e não chateia muito os africanos - porque diz que não quer Mugabe cá porque trará "ruído" à cimeira, afastando os temas importantes... Diz o povo, uma no cravo, outra na ferradura.

Isto da Diplomacia é um jogo de equilíbrios eo Amado "joga bonito"!

FG

Concordâncias...

Estava ontem a ver a "Quadratura do Círculo" na SIC notícias quando sou surpreendido pelo facto dos participantes assumirem que gostaram de ouvir o rei espanhol mandar calar Chávez.

É engraçado ver a defesa das posições mais estúpidas. Chávez é mal-educado e inconveninete (seria bom que algumas cabeças - supostamente - pensantes tentassem perceber porque razão ele ganha eleições como o faz no seu país), mas dizer-se que se concorda com um Chefe-de-Estado mandar calar outro numa conferência internacional??? É curioso que o José Pacheco Pereira tem o hábito de criticar a falta de elevação no diálogo político e a forma arrogante como o Primeiro-ministro trata os seus opositores no Parlamento português; não sei se serão dois pesos e duas medidas ou apenas e só o complexo anti-chavista a funcionar.

Clara Ferreira Alves comentava, no "Eixo do Mal" que o ocidente não se dá bem com a "sublevação" índigena na América do Sul. De facto a cultura europeia é etnocêntrica (quase todas são, mas esta tem tido mais oportunidades de esmagar as outras...) e tende a olhar e interpretar as realidades dos outros partindo de paradigmas próprios; caindo no pecado original e acabando por nunca perceber "o outro". É um problema antigo mas que apenas a civilização europeia reconhece, e essa é a sua superioridade, o facto de ser capaz de se auto-criticar e de se regenerar.

O problema com Chávez não reside no facto dele ser mestiço ou do ocidente não o compreender, nsem sequer do facto dele resistir às regras e aos padrões internacionalmente impostos; o problema com Chávez nasce do facto da forma como ele o faz. Até consigo perceber que se defenda um modelo com iniciativa do Estado, menos liberal, mais regulado; não percebo é a necessidade de se chamar "Diabo" ao presidente dos EUA para fazer a defesa de tal modelo (muitos dirão que nasce no facto dos EUA tratarem a América latina como o "Quintal"); também entendo, se for verdade, a revolta de Chávez com Aznar pelo facto deste ter patrocinado um golpe de Estado para o depor - só não precisa de o insultar e de não deixar ninguém falar. Discordo de Chavez na forma de comunicação e nos remédios para os problemas do Estado e da sociedade venezuelana; compreendo muito bem a revolta desta gente para com a estrutura dos seus países, não pode ser fácil viver em sociedades de ascensão tão fechada...

Compreendo que dê vontade de mandar calar Chávez; o homem é rude, mal-educado, inconveniente... Zapatero não o mandou calar, esteve à altura das circunstâncias. Que diabo, há algum problema em afirmar-se que era o rei que devia estar calado? Porque foi capaz de segurar a democracia espanhola vive numa redoma do "can´t do no harm"? Esse tempo passou, não é possível que se concorde com faltas de educação, um passado limpo não serve de desculpa para falhas graves... vidé Otelo!

FG

Xiu


A interdependência acontece quando numa discussão numa Cimeira Internacional um rei se comporta de forma tão pouco delidaca quanto um populista sul-americano, destratando um Chefe-de-Estado; sequentemente o ambiente para as empresas daquele país fica difícil; o nível da discussão não se eleva e o presidente daquele Estado sul-americano nacionaliza os bens de um grande banco do país do rei; sequentemente as acções desse banco caem a níveis absurdos na bolsa, tornando-o vulnerável a uma OPA hostil.


Após ser comprado por uma entidade estrangeira o banco é integrado na rede do banco que o compra e alguns milhares de funcionários são despedidos.


Foi-se uma empresa bandeira, foram-se importante activos do país, aumenta o desemprego, fragiliza-se a economia.... há momentos em que mais valia estar calado!


FG

Euro 2008

Estamos a ficar mal (ou finalmente bem...) habituados. A selecção portuguesa de futebol apurou-se para o 4º europeu consecutivo, antes desta fase tínhamos estado nos Mundiais de 1966 e 1986 e no Europeu de 1984. Em 1996 estivemos bem, fomos eleminados nos quartos-de-final pela República Checa, com um golo tremendo de Poborsky, numa saída em falso de Vítor Baía, e num jogo dominado por Portugal; em 2000 fomos terceiros num europeu no qual jogámos o nosso melhor futebol de sempre (que me lembre), eleminados por um França sortuda; e, em 2004, em casa, só não ganhámos por manifesto azar numa final com uma Grécia hiper-tática...

A fase de qualificação para o Euro-2008 inaugura uma nova etapa para a selecção nacional, na qual já não há jogadores da "geração de ouro". Faltou um líder em campo e as sucessivas lesões de jogadores fundamentais deixaram o apuramento para o último jogo. A selecção portuguesa de 1996-2004 foi construindo prestígio internacional em torno de jogadores referência no mundo: úm dos melhores guarda-redes (Vítor Baía), um dos melhores centrais do mundo (Fernando Couto), o melhor trinco (Paulo Sousa), um dos melhores médio centro (Rui Costa) e o melhor extremo (Luís Figo). Foi, de facto uma geração de ouro, faltou apenas um ponta de lança de elite para Portugal ter vencer uma competição (Rui Costa muitas vezes disse que faltava um Batistuta...).

A reacção nacional foi calma, sem festejos ou euforias. estamos habituados a ver sinfonias no relvado, temos de nos habituar a uma equipa em construção. Falta um guarda-redes de topo; há centrais e laterais direitos do melhor do mundo (Carvalho, Andrade, pepe, meira, Bosingwa e Miguel); faltam medios da dimensão de costa (Tiago nunca mais é à séria, Deco é bom mas não chega; Manuel fernandes, Moutinho e Veloso são muito novos)..., extremos há de qualidade e em quantidade nunca vista (Ronaldo, simão, quaresma e nani). Se Makukula cumprir pode ser a peça que falta a Portugal.

Vamos ver no que dá, faltam 8 meses para o europeu; de uma maneira ou de outra, vamos à festa!

FG

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A preocupação do lado de lá da raia

Foi hoje publicado um artigo no Diário Económico de um jornalista espanhol, Miguel Angel Belloso, director da “Actualidad Económica”, vociferando contra Soares e as relações perigosas entre Portugal e a Venezuela. O que será que tanto preocupa “nuestros hermanos” nas boas relações entre Portugal e o país de Chávez? No mesmo periódico a GALP considera que a Venezuela é um “parceiro inevitável”, as oportunidades existem para serem aproveitadas!

FG

domingo, 18 de novembro de 2007

ABM e NPT - passado, presente e futuro


A questão iraniana está a levantar alguma celeuma junto de uma camada da população, relativamente informada, mas que trata estes temas pela rama…

O Tratado ABM (Anti Ballistic Missile) foi assinado em 1972 e é, em minha opinião, o documento que melhor retrata quer a Guerra-fria, quer a Doutrina MAD (Mutual Assured Destruction). Grosso modo, o Tratado proíbe a instalação de mísseis defensivos contra mísseis balísticos, isso mesmo, proíbe as defesas; fá-lo porque a Guerra-Fria, a partir do momento em que se alcança a paridade nuclear, vive no equilíbrio de terror, ninguém ataca porque esta garantido o “2nd strike capability”, a “mutual assured destruction”. A instalação de sistema defensivos poderia permitir a quem tem capacidade defensiva, estar a salvo da resposta inimiga, retirando o “2nd strike capability”, destruindo o paradigma do equilíbrio de terror em que o mundo vivia.

Este documento tem um período próprio, que termina em 1991, com o fim da URSS e da ameaça comunista, na realidade os EUA apenas se retiram do tratado em 2002, quando decidem que precisam de defender-se do próximo sistema internacional – o que há-de vir… Mortan Kaplan previa a multipolaridade nuclear, que pelo andar da carruagem está mais próxima do que se pensava há uns anos (faz-se um pequeno parêntesis para salientar que acreditamos ser mais provável uma ameaça nuclear suja, uma dirty bomb, proveniente de ameaças pós-modernas do que de um “rogue state”).

O TPN (Nuclear Non-Proliferation Treaty) é um documento do qual apenas 4 Estado não fazem parte (Israel, Índia, Paquistão e Coreia da Norte – esta última já foi parte do Tratado, violou-o e mais tarde retirou-se); e visa parar a proliferação do armamento nuclear, o desarmamento nuclear; e, os fins pacíficos desta tecnologia.

O primeiro tratado é um instrumento regulador do sistema de equilíbrio de um tempo histórico próprio; o segundo documento é, acima de tudo, um instrumento regulador da boa vontade dos povos do mundo pela utilização pacífica da tecnologia nuclear

Se o ABM materializa em tratado o equilíbrio de terror, o TPN prevê – a anos de distância – a proliferação desta tecnologia e os riscos e custos associados; um é um texto sincrónico com um determinado período, outro é um instrumento diacrónico para memória futura dos líderes e governantes mundiais.

FG

Manigâncias

No Governo PSD/CDS houve uma expressão, ate então desconhecida da generalidade das pessoas – acredito, que virou escárnio: manigâncias.

As manigâncias eram os métodos, ad-hoc ou supostamente menos dignos, que a então Ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, usava para tentar controlar as contas públicas. Falou-se principlanmente de duas opções de governação: venda de bens do Estado (normalmente imóveis) e da venda de créditos futuros portugueses ao Citygroup.

Curiosamente o Partido que criticava a então Ministra, o PS, escolhe uma manigância – no caso a transformação da Estradas de Portugal de EPE em SA – para arrasar com uma estratégia de anos de clarificação das contas do Estado.

Esta questão da Estradas de Portugal tem, aliás, diversas questões melindrosas: uma primeira, que vem esconder parte do défice público; a segunda, segundo o PSD, que visa criar uma falsa margem de modo a dar folga aos portugueses em 2009; e, uma terceira dimensão, que mexe com a – possível – entrega aos privados da rede rodoviária nacional (o em breve ex-Ministro das Obras Públicas já disse que o Governo não pretende privatizar as EP… nesta legislatura!).

Esta decisão do Governo do PS demonstra a total falta de estratégia para as grandes questões nacionais… ainda estou à espera que me digam quais as vantagens e desvantagens da Ota e de Alcochete; decidir uma obra pública desta dimensão com o fundamento no menor custo é uma infelicidade.

FG

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Condicionados

Nem de propósito! O Presidente da República e o líder da oposição, certamente sem qualquer tipo de concertação, condicionaram o Governo na questão do novo aeroporto, dificultando qualquer decisão menos técnica.

Muito bem esteve Menezes, acusou o Governo de ter encenado um acto de propaganda com o estudo de Alcochete, sofreu um ligeiro revés do Presidente - que veio a terreiro dizer que não acredita nessa possibilidade (amarrando o Governo à questão técnica); logo Menezes elogiou o Chefe-de-Estado, esvaziando o balão dos possíveis comentários que iriam, com certeza, decretar as dificuldades de relacionamento Belém-São Caetano à Lapa. Começa bem Menezes...

Está inquinado o debate e a decisão, ao contrário do que desejava a construção desta estrutura não terá por base uma ideia/estratégia de desenvolvimento nacional; será a construção de um equipamento necessário ao país mas, parece-me que feito de forma avulsa...

FG

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ota vs. Alcochete


A decisão do novo Aeroporto de Lisboa devia ser alvo de estudo profundo nas Academias de Ciência Política em todo o mundo como um exemplo de como não se deve decidir! É de facto notável como o país anda há dezenas de anos para decidir onde fazer a nova estrutura aeroportuária da capital, se não for caso único será, certamente, muito raro.

Nos recentes capítulos desta novela trágica em que o Estado português se tem deixado arrastar a CIP decidiu (em acordo com o Primeiro-Ministro) realizar um estudo sobre a viabilidade do aeroporto ser construído em Alcochete e não na Ota.

O estudo, como não poderia deixar de ser num documento técnico, aponta defeitos e virtudes a esta localização. Custando x ou y, sendo a oneração modular, em função do que for decidido construir - especialmente em acessos.

Num comentário politicamente assassino o presidente da CIP, Francisco Van Zeller, anunciou que o Ministro da Tutela, Mário Lino, queria destruir este estudo - de modo a facilitar a decisão (entretanto já tomada, não esquecer) pela Ota. Esta frase, além de ser grave do ponto de vista político e pessoal - na sequência de muitas outras do mesmo autor, tem o condão de condicionar o Ministro, silenciando-o sobre esta matéria: tudo o que Mário Lino disser sobre o tema será visto sobre a óptica do favorecimento à Ota. No entanto, e porque não ouvi ninguém dizer isto antes, pode Van Zeller dizer estas coisas sem que alguém pergunte como obteve essa informação? Não deveria já Mário Lino ter chamado à coação o autor de tal informação e instá-lo a dizer quem o informou de tal; sob pena de ter de afirmar que a afirmação é falsa! Se tal não acontecer, somos obrigados a acreditar que Van Zeller não mentiu, que o objectivo do Ministro está tomada sem ler ou ouvir mais estudos.

Independentemente deste estudo tenho uma outra questão: a decisão da construção do novo aeroporto é técnica ou política? Esta questão é um bocadinho pertinente pois, parece-me que o debate está inquinado pela presença de tantos e tão consagrados engenheiros e empresários.

A decisão da decisão de uma grande obra pública deve estar sempre assente numa decisão política, ainda que consubstanciada tecnicamente; querer transformar-se esta decisão num facto técnico é uma falácia. Não cabe ao Eng. A ou B a decisão, cabe a que foi eleito para governar o país decidir onde, como e porquê construir o aeroporto. A construção desta obra implica saber-se para que se quer um novo aeroporto; se para Lisboa, se para o país; se se quer uma estrutura que aumenta a oferta ou uma placa de ligação a outros destinos (como Barajas é para a Am. latina...); ligação a estruturas ferroviárias e portuárias ou independente; potenciadora da região A ou B; etc...

É altamente redutor estarem a ser discutidos os números da obra, quando a obra em si mesma nada vale (ou pouco vale); o importante é saber-se o que se consegue extrair de um novo aeroporto, e qual a localização que mais oferece ao país integrada na Estratégia nacional! Até agora esta parte da discussão tem estado omissa, e por isso o governo está a perder o combate com os tecnocratas.

Falta explicar ao país o porquê de uma localização ou de outra. Se a decisão for assente em bases sólidas e integrada numa estratégia nacional, facilmente o Governo sai desta questão em alta, de outra forma está montado um atoleiro que atirará lama para Lino e Sócrates.


FG


ps - no meio desta questão ainda não percebi se existe a tal Estratégia Nacional ou se estamos a navegar à vista, como quase sempre...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007


Ontem foi um fim de tarde à antiga. Comemos uma barrigada, mas a consistência do futebol não me convenceu. Falta, definitivamente, qualidade em algumas das posições do plantel...


Esperemos por Dezembro, mas ainda vamos lá...

FG

ps - a actual condição do Boavista mostra que está muita coisa a mudar na estrutura de poder do futebol nacional...

Parabéns Angola


Comemorou-se ontem, 11 de novembro de 2007, o 32º aniversário da independência de Angola. Promessas de eleições, democratização e desenvolvimento na economia de maior crescimento no mundo.


Nessa madrugada em 1975, lutava-se duramente pela capital da então colónia portuguesa (ou província ultramarina, é apenas semântica...). Todos os líderes iniciais dos movimentos de libertaçao angolano já pereceram: Neto (que proclamou a independencia em Luanda), Savimbi e Roberto (que proclamaram outras independências no Huambo e no Uíge).


A independência começou muito mal, com a potência colonial a usar do lema "o último que apague a luz" e a sair à pressa - vivia-se também um processo revolucionário doloroso em Portugal. A consequência foi a talvez mais dura guerra civil de África (ainda que sem os ódios dos casos do Ruanda e do Congo), entre 1975 e 2002 - co o interregno de Bicesse e Lusaca.


Hoje, Angola promete ser o que semrpe dela se esperou: uma potência regional afirmativa. Nada está ganho, mas o futuro está já ao virar da esquina.


FG

A agressividade de Juan Carlos…



Houve um tempo, no “ancien régime”, no qual o rei tinha o direito de fazer o que entendia no interior das suas fronteiras – foi a Soberania pós-Vestefaliana levada ao Extremo da existência. Após 1789 com mais umas e menos umas cabeças cortadas com patrocínio do Dr. Joseph-Ignace Guillotin moderou-se o poder do monarca e a soberania passou a residir na Nação, deixando de ser uma prerrogativa do divino.

Este fim-de-semana, numa Cimeira num continente que, em tempos idos, conheceu um fabuloso domínio espanhol, o Rei de Espanha – povo que naquele hemisfério sempre foi um exemplo de ponderação e equilíbrio no seu relacionamento com os indígenas, dizimando a seu bel-prazer – foi capaz de mandar calar um Chefe-de-Estado.

Não sou fã de Hugo Chávez, nunca poderia ser, mas o grau de agressividade com que o Rei de Espanha se dirigiu ao senhor foi degradante. Nunca imaginei ver o presidente da Venezuela dar uma lição de educação ao monarca vizinho mas… aconteceu! É simplesmente inadmissível que um chefe-de-Estado se comporte assim.

Desde 1981 habituámo-nos a ver no rei espanhol um exemplo de ponderação e educação, superior a forma como “salvou” a democracia espanhola em 1981. No entanto, os últimos tempos não têm sido fáceis: trabalha com o governo mais liberal (em matéria de costumes e organização do Estado) que ate hoje já conheceu; grassa em diversas províncias espanholas uma oposição à monarquia até hoje desconhecidas; a família real espanhola – em tempos um exemplo de discrição – abre buracos por todos os lados; e, recentemente, o reino do Marrocos decidiu capitalizar a fraqueza do país.

De uma coisa estou certo: não será com o aumentar da agressividade do discurso político que o rei manterá autoridade. Até acredito que a prazo os súbditos fiquem orgulhosos da forma vibrante como o “viejo” defende os seus, mas a prazo tem custos para a sua imagem e terá responsabilidades na degradação da forma de diálogo politico interno – vide a espiral que tem vindo a marcar a presença do PM português no parlamento: começou crispado e arrogante, está já na fase do pedante sem educação (Primeiro corta a direito, depois tem tiques autoritários – este será sempre o resultado deste índice de agressividade no diálogo).

Curiosamente, esta crise interna dá-se precisamente no momento de máxima expansão da economia espanhola – crê-se, onde o país deverá mesmo conhecer um superavit orçamental. A minha questão fundamental é saber como vão reagir às dificuldades? A Espanha moderna resistiu unida com a mão-de-ferro de Franco e a luta pela Democracia. Com o grau de conforto que a população hoje conhece e podendo, a médio prazo, ver recuar esse conforto, quem irão os espanhóis culpar? Será que Castela conseguirá manter o cimento da união dos diversos reinos peninsulares? Ou será que Portugal terá mais companhia neste maciço?

Boa parte de nós estamos habituados a ouvir, desde há muitos anos, a conversa da plurinacionalidade de Espanha, sem ver surgir novos dados sobre a inconsistência do Estado; lembro porém que, quando se dão acelerações históricas, os acontecimentos ultrapassam os homens. Se fosse espanhol via os sinais como preocupantes…

FG

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

António Lança Carvalho

Este senhor não é uma figura pública e também não é um milionário filantropo. Trata-se apenas e só de um controlador aéreo que decidiu dispensar 5000 € anuais para premiar os melhores alunos dos bairros carenciados da sua Junta de Freguesia, São Domingos de Rana, em Cascais.

A história está contada nas páginas 8 e 9 do caderno 2 do jornal Publico de hoje, 7 de Novembro de 2007. Obrigado e bem-haja.

FG

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Sarkozy, África, Desenvolvimento e História; Thabo Mbeki e Umaru Yar’Adua







No dia 26 de Julho o presidente francês fez um discurso no Senegal onde, entre outras coisas, falou do facto de África nunca ter “entrado na História”, dos problemas dos africanos que implicam, o seu próprio atraso e do caminho para o Desenvolvimento (quando referiu a colonização não mostrou grande arrependimento ou trauma).

Nos dias subsequentes o presidente sul-africano escreveu uma carta de agradecimento a Sarkozy, lançando o apelo para uma cooperação entre a França e a Africa do Sul, que possibilite o renascimento do continente africano no contexto do renascimento europeu e do resto do mundo.

No último fim-de-semana o presidente da Nigéria fez um discurso em Eltville, na Alemanha, apelando a um “Plano Marshall” para África, que possibilite o renascimento do continente, rumo ao desenvolvimento. Foi salientada a necessidade de haver em África homens de Estado que, tementes a Deus, tragam outra Ética à condução dos assuntos dos Estados africanos.

Sobre Sarkozy, quer-nos parecer que a sua visão sobre história é um bocadinho etnocêntrica, maniqueísta e datada (bem longe do “Estado da Arte”). Há algumas décadas atrás, ao considerar-se que o desenvolvimento e a História eram um percurso comum (as nações estavam numa determinada fase, não desenvolvidas - em vias de desenvolvimento – desenvolvidas), que todos deviam percorrer da mesma forma.

Esta análise, decalcada a partir da experiência ocidental, peca por não conseguir enquadrar o comportamento de alguns países que passaram de “não desenvolvidos” para “desenvolvidos”, como os tigres asiáticos, e por não conseguir explicar como se atinge o desenvolvimento sem ter a experiência política adequada (demo-liberlismo ocidental), que a RP China demonstrou ser capaz de executar; por outro lado, também não consegue explicar os resultados sociais diferentes, com direitos e liberdades salvaguardados de forma diversa…

Para além de etnocêntrica, a visão de “entrar na História” tem a carga maniqueísta do “centro” e da “periferia”. Estes conceitos, bem ao gosto dos maniqueístas marxistas da América Latina dos anos ‘1970, são obtusos porque, ao simplificar-se demasiado a análise do sistema internacional, não se percebem todas as suas dinâmicas; não se conseguindo explicar, por exemplo, um fenómeno como a globalização…

Ainda que Sarkozy parta de pressupostos – em nossa opinião – errados, o discurso tem o mérito de citar a falta de autocrítica dos africanos, fundamental para uma sociedade se superar. Há em África, como em outras partes do mundo, a tendência de responsabilizar sempre, ou quase sempre, o estrangeiro pelos males do continente. Esta ideia tem já raízes antigas, entre elas a falta de auto-estima, com responsabilidades objectivas para os diversos séculos de colonização europeia; ou as teses do “afropessismismo”, em voga há alguns anos. Neste ponto Sarkozy tem razão, os africanos precisam de repensar o seu modelo, precisam de “renascer”, partindo de reflexões internas.

Este discurso pode ser analisado pela negativa, pelos pressupostos etnocêntricos (por alguma razão o presidente francês foi acusado de racismo) ou, como fez Thabo Mbeki, aproveitando a oportunidade, escreveu uma carta ao presidente francês, ignorando o que não lhe interessava, mas agradecendo a iniciativa francesa, em querer contribuir para o desenvolvimento de África.

Mbeki, pragmático, quererá aproveitar a oportunidade do discurso do presidente francês para, em conjunto com a Cimeira EU-África, de Dezembro próximo, colocar certas questões na agenda.

O discurso de Yar’Adua vai no mesmo sentido, mas partindo de um pressuposto errado. Mais uma vez a ideia de um “Plano Marshall”; voltam os africanos a surgir de mão estendida. Yar’Adua parece não ter ainda percebido que África já teve diversos “planos Marshal”, que a solução não passa por deitar dinheiro para cima dos problemas. A solução tem de ser interna, com apoio externo, evidentemente, mas com iniciativa interna. Este mendigar africano é tanto mais irritante quanto absurdo: quando se está num buraco a primeira atitude a tomar é deixar de cavar! Em vez de pedir planos miraculosos, Yar’Adua devia ter pedido para a EU e os EUA estabelecerem relações comerciais com África justas; devia ter começado por se indignar com a PAC e a Pauta Aduaneira norte-americana; poderia ter explicado que para África começar um caminho de enriquecimento (ou “desempobrecimento”) terá de desviar-se do percurso de liberalização de comércio internacional e entrar numa fase de organização interna (do Estado e das suas diversas regiões) e de acumulação pois, de outra forma, não há enriquecimento possível.

Foram duas atitudes bem diversas destes dois chefes de Estado. Mbeki, ainda que cometendo erros graves na sua RAS (onde o combate à SIDA é um desastre completo…), tem potenciado o “empowerment” dos empresários negros, procurando ter uma classe empresarial forte (que hoje tem um enorme poder no seio do ANC, onde Tokyo Sexuale surge como forte hipótese para a sucessão, ao lado de nomes como Cyril Ramaphusa – o preferido de Mandela – ou Jacob Zuma – ex-Vice Presidente de Mbeki).

África parece continuar encravada entre os líderes que olham o futuro e aqueles que se centram no passado, o tempo dos mendigos tem de acabar. A pobreza é, acima de tudo, uma condição económica, os africanos têm de ter a dignidade e a força de carácter de a combater sem complexos ou pessimismos étnicos. A atitude miserabilista do passado confinou o continente não apenas à pobreza mas ao pior dos males paea uma entidade política: a dependência, e esta é a mãe do neocolonialismo.

A Liberdade pela qual os povos africanos lutaram no passado tem uma dimensão económica fundamental, sem a liberdade económica a luta do passado foi vã e a independência política é vazia de conteúdo...

FG