terça-feira, 23 de outubro de 2007

Um Nobel idiota


No número 1 da revista Foreign Policy em Portugal está um artigo interessante de Alvaro Vargas Llosa denominado “O Regresso do Idiota” (não tenho a certeza ser este o nome porque tenho o original em inglês, pelo que qualquer inexactidão dever-se-á à minha inabilidade para a tradução). Esse artigo, essencial para quem como eu, teme os líderes populistas sul-americanos, expõe ao ridículo alguns laureados com o prémio Nobel (Stiglitz ou Saramago, por exemplo) pelo apoio que dão a alguns líderes daquele hemisfério.

Ganhar o Prémio Nobel é um feito notável, muito embora a política interferira, demasiadas vezes, com as decisões do Comité – sempre dependente do politicamente correcto.

Se é aceitável que nas categorias políticas e/ou culturais surjam algumas escolhas controversas, o mesmo não se verifica em categorias eminentemente científicas, como é o caso da medicina, que atribuiu ao notável cientista James Watson esse prémio no longínquo ano de 1962. As declarações de James Watson são, por essa mesma razão, um marco de imbecilidade neste início de século XXI.

No entanto, o desenterrar do racismo e da superioridade étnico-racial branca sobre os negros (no caso concreto, porque qualquer tentativa de demonstrar a superioridade dos povos é severamente estúpida), trouxe luz sobre uma importante questão: acreditamos quase todos que a educação é a chave para um mundo melhor; James Watson é do mais educado que existe neste planeta e… veja-se o resultado!

A tentativa de criar seres quimicamente e biologicamente perfeitos é tão humana quanto desumana: humana porque o a busca pela melhoria e desenvolvimento individual – e colectivo – é incessante, desumana porque as imperfeições também fazem parte desta espécie. Aliás, é a tolerância para com essas imperfeições (em termos e doses razoáveis…) e para com diferenças entre indivíduos e modelos sociais que permite a convivência entre pessoas e povos.

Devemos todos a Watson um grande muito obrigado para nos lembrar que o carácter das pessoas não se mede só pela educação que se possui; as respostas não estão todas disponíveis na ciência, muito felizmente. Por isso percebo porque alguns pedreiros ou lavradores portugueses se comportavam melhor para com os povos indígenas colonizados do que alguns Governadores provinciais, simplesmente porque eram capazes de reconhecer o relacionamento humano que os aproximava, coisa que gente como Watson, por muito que busque nas profundezas das suas estatísticas, nunca verdadeiramente encontrará.


FG

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