segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Remédios lusos


A entrevista de Pinto Monteiro ao semanário Sol de 20 de Outubro é mais uma típica conversa à portuguesa!

Os portugueses são excelentes a detectar as anomalias do sistema: Catalina Pestana esteve à frente da Casa Pia e percebeu que as redes de pedofilia estavam activas, calou-se bem caladinha, falou no fim; Pinto Monteiro tem nomeado gente a granel na Procuradoria, criticando agora o sistema feudal da instituição que, pasme-se, ele lidera.

Desculpem lá mas não há paciência! Semana sim, semana não, aparece um ex- qualquer coisa (no caso de Monteiro é pior porque ainda lá está) a criticar o funcionamento de qualquer coisa no país; quando a questão fundamental é perceber porquê que quando por lá andaram não fizeram nada?

Manuela Ferreira Leite é vendida aos militantes do PSD e ao comum cidadão como uma mulher acima de qualquer suspeita, de perfil elevadíssimo e de capacidades extraordinárias; será que estou enganado mas não foi ela Ministra da Educação e Ministra das Finanças? Em que estado estão a Educação e as Finanças Públicas em Portugal? Qual o trabalho estrutural que na sua passagem por aquelas pastas foi feito?

Anda por aí muito declamador de panaceia com frases feitas para salvação nacional que teve a sua oportunidade! Fazem-me lembrar aquele indivíduo que tem uma amante e que diz que o casamento dos homossexuais vais destruir a instituição do matrimónio; ou os advogados que, nas orais da ordem, avisam os estagiários (examinandos) para a crise em que vive a advocacia – os que estão de fora do sistema ou os recém chegados são que têm que ouvir isto? Bem prega Frei Tomás…

A verdade é que os políticos portugueses, bem como as elites portuguesas em geral, são muito mal preparados; procuram soluções com sucesso em outras paragens (como esta flexisegurança) não percebendo que o caminho de Desenvolvimento não é uma recta com um ponto de partida e um ponto de chegada, não é um percurso histórico de não desenvolvimento para desenvolvimento. O Desenvolvimento faz-se através da construção de modelos apropriados para as sociedades em que se deverão aplicar.

Há alguns anos era a Irlanda, depois passou a ser a Dinamarca, antes era o modelo da educação da Suécia. Na verdade os decisores políticos nacionais são quase sempre mimos, que copiam modelos de sucesso no estrangeiro para aplicação na pátria indígena. Esta situação também se deve ao facto do modelo político estar bloqueado, o velho centrão.

Desculpem-me os que comigo discordarem mas Portugal teve, desde o 25 de Abril dois Primeiro-ministro com visão estratégica do sistema político nacional: Francisco Sá Carneiro e Aníbal Cavaco e Silva. Ambos procuraram, inteligentemente, a bipolarização do sistema, criando dois pólos aglutinadores capazes de se confrontarem e gerarem alternativas de poder, de governo e de desenvolvimento.

Este foi o maior fracasso destes governantes, que só com a introdução de círculos uninominais pode ser ultrapassado, de outra forma caímos na latinização do nosso sistema político onde o PSD e o PS (mais algum CDS, PP não…) se protegem, criando o bloco central e impedindo a verdadeira criação de alternativas.

Na verdade esta nuance do sistema político poderia nem ser necessária se fossem criados grupos de estudo e think thanks capazes de fornecer inteligência, matéria-prima para, uma vez no poder, ser aplicada à governação nacional. Os políticos de pequena dimensão desprezam estas coisas, porque o importante é lá chegar, depois logo se vê – depois cai-se no abismo do vazio de ideias e governa-se à vista, dependente de marés positivas da conjuntura internacional.

A minha maior esperança para Menezes é efectivamente o Grupo de Estudos Nacional e o Instituto Francisco Sá Carneiro, onde se possa desenvolver trabalho intelectual e preparar a próxima governação do PSD, com ideias e modelos pensados para este país, não com cópias preguiçosas de experiências exógenas.

FG

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