A visita recente do líder do Tibete e a possível visita futura do Presidente do Zimbabué causaram algum mal-estar em alguns dos portugueses bem-pensantes.
Estas duas criaturas, ainda que em pólos opostos no pensamento e na praxis politica (pelo menos nos últimos anos, até há uma década atrás Mugabe era um campeão da Governação…), representam o exemplo claro do paradigma de acção das Necessidades desde há muito tempo.
A política externa portuguesa baliza-se dentro do paradigma realista. Fá-lo, que me lembre, desde sempre – com algumas nuances mas sempre com o mesmo pendor realista.
Sem entrarmos por raciocínios intelectualmente profundos sobre o realismo, neo-realismo ou estruturalismo – que nada servem para esclarecer este caso, o facto é que Portugal pauta-se nas suas Relações Internacionais pela promoção do seu interesse nacional, sem estar preso a um realismo do tipo de Morgenthau, porque fazemos parte de OI´s em que oferecemos soberania ou porque aceitamos regulação pelo DIPu.
Portugal pretende, de acordo com o que transpareceu da última visita de Ana Paula Vitorino à China (RPC), usar Sines como uma das portas dos produtos chineses na Europa ocidental; e, do que se depreende do que disse Pinho, pretende também captar na RPC um investidor externo de futuro (naturalmente a RPC não vivera ad eternum e ad nauseum de exportações…). Se nas prioridades portuguesas está um relacionamento privilegiado com a RPC, ate porque Macau pode ser muito importante para o país, esperava-se uma decisão diferente? A resposta é relativamente óbvia: claro que não!
A situação de Mugabe toca no mesmo ponto. Há alguns anos, tinha Portugal a presidência da OSCE, Martins da Cruz, então MNE, defendeu a vinda do Presidente Bielorrusso – o que se revelou fundamental para o processo de pacificação interna… A verdade é que Mugabe é o único interlocutor viável do Zimbabué (independentemente dos motivos para tal circunstância), além de presidente, secou a cena politica do país. Dado que alguns países fundamentais da região (que no caso de Angola é um país crucial para Portugal) dizem não querer assistir à Cimeira se Mugabe não vier, qual a opção que nos fica? O Foreign Office põe o acento na lógica dos direitos humanos e da governação, mas trata-se apenas e só de interesse inglês e, perdoem-me os mais generosos, Portugal, e os restantes 25 países membros da EU não podem ser condicionados pelo interesse nacional britânico. É a Inglaterra que deve engolir o sapo e perceber que já não é a potencia que define o sistema internacional, David Miliband deve colocar o Foreign Office à sua dimensão de presente e futuro, não há do passado.
Claro está que estas teses valem para a estratégia (ainda que pouca) da Politica Externa portuguesa. Se Portugal fosse um país nórdico, com índices de produtividade fantásticos e não precisasse de receber investimento chinês (ou precisasse menos) e não tivesse o passado e os interesses que tem em África (como espaço fundamental de internacionalização da economia e como interlocutor privilegiado de Africa na Europa) poderia ter uma politica externa assente em princípios distintos. Poderia fazer uma abordagem mais idealista, de quem está satisfeito com o grau desenvolvimento que possui, que defende valores universais e fazer diplomacia pública, desenvolvendo uma capacidade de atracção junto das opiniões públicas ocidentais como pais de excepção.
Por esta razão, pelo facto de ceder ao Dalai Lama era, e ceder aos ingleses será, trair a estratégia da política externa portuguesa, sou bem favorável à decisão de manter o Dalai Lama (um encantador senhor) no lugar da admiração privada; e, de pressionar toda a EU para em conjunto percebermos que África é um barco que está a passar depressa. A RPC há já alguns anos que faz uma cimeira anual com os líderes do continente, os EUA estão a começar a acordar para o mundo de possibilidades, urge que a EU saiba ganhar vantagens juntos dos líderes africanos.
FG
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
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